Friday, July 14, 2006

PLANEJAMENTO E PSICOLOGIA DA DIREÇÃO

Planejamento e direção de imagem. Conceitos técnicos. Linguagem e narrativa televisiva. Os planos de gravação. Movimentos de câmera. Movimentos da objetiva. Enquadramento.

Prof. Moysés Faria
AULA II

PLANEJAMENTO E DIREÇÃO DE IMAGENS

Planejamento:

Não há produção sem planejamento. O diretor tem que saber o que é necessário para a realização de um produto para televisão, muito antes de começar a produzir. Antes da execução é necessário planejar o que se espera realizar. Em televisão, todo o plano de trabalho e roteiro, são elaborados com riqueza de detalhes que importam no desenvolvimento técnico, artístico e operacional da produção. O planejamento deve responder, pelo menos, três perguntas fundamentais: Onde estamos; onde queremos chegar e como chegar lá?!.

1º - Onde estamos? Quais são os nossos recursos disponíveis? Quais são os nossos pontos fortes e fracos? Etc.

2º - Onde queremos chegar? Quais serão as nossas metas? O que iremos produzir. Para quem iremos produzir? Etc.

3º - Como chegar lá? Quais são os melhores caminhos para alcançar as metas e chegar aos objetivos?


A Televisão é um veiculo de comunicação de massa importante na educação, entretenimento, informação, interação, possibilitado pelos seus programas dramáticos, musicais, shows, jornalismo, comédia, especiais, eventos, esportes, circuito fechado, Internet, etc. Tudo isso é televisão, e precisa de planejamento para comunicar ao público. Portanto, para um bom planejamento de produção há de se cumprir, pelo menos, dez mandamentos:

1- Faça com que a produção trabalhe "em equipe".

2- Faça fotos da locação e estude todas as possibilidades de sua utilização.

3- Solicite por escrito, autorização para gravar em lugares públicos ou de terceiros.


4- Faça lista de tudo que necessita nas gravações, incluindo: capas de chuva, sacos plásticos, fitas adesivas, caixas de ferramentas e primeiros socorros, telefone celular e rádios de comunicação, e um grande quadro para anotações de todos os figurinos, objetos de cena, e nomes dos atores. Este quadro deve ficar fixado na entrada da produção, com horários telefones e etc.

5- Fique atento para que, no “set” de gravação, a captação do áudio não fique comprometida por ruídos de ventos, celulares, soluços, espirros, fungadas, gases, aviões, carros, buzinas, bomba d´agua do vizinho, latidos de cães, etc., que podem destruir horas de trabalho em poucos segundos.

6 - Economize, mas com critério. Materiais importados e extremamente caros adotados na cenografia não se revelam na tela. (tecidos importados, etc.).

7- Confirme a presença de todos com antecedência e tenha sempre os contatos para solucionar atrasos ou faltas. Certifique-se que os atores convidados decoraram as suas falas e estão cientes da suas marcas. Aceite, com carinho, sugestões dos atores em relação à cênica do olhar e gestos. Bons atores sabem falar com o corpo.

8 - Respeite a sua equipe. O bom diretor não perde a calma e não grita com sua equipe. Mesmo que tudo saia errado procure uma saída utilizando sua intuição. Não permita que pessoas fiquem no estúdio falando alto ou fumando. Trabalhe concentrado e com atenção. Afine a iluminação antes de cada cena. Anote a seqüência e o número da tomada e do plano na claquete. Bata a claquete antes da ação. Repita a cena até se dar por satisfeito. Consulte sempre o continuísta ou a equipe de som para ver se você não deixou escapar nenhum erro. Não deixe os atores na frente da câmera forçarem ou perderem à naturalidade. Bata o branco da câmera para que as cores fiquem corretas. Veja sempre o material gravado no monitor. O color-bar deve ser gravado antes do início do trabalho. (na edição todo esse procedimento facilitará o trabalho do editor). Bons diretores têm o domínio total do que está sendo feito.

9- Acompanhe todo o trabalho da sua equipe até a finalização. Faça com que os nomes dos facilitadores, lugares, atores, equipe, professores, roteirista, músicos, etc., estejam corretamente escritos no créditos. Agradeça às pessoas que possibilitaram a sua produção. Com atores e músicos profissionais faça um contrato assinado evitando problemas com direitos autorais. Tome cuidado com a fita original. (cole nela uma etiqueta, constando nome do produto, equipe e dia de gravação).

10- Leia e releia o roteiro. Anote tudo e faça com que todos os detalhes na frente e atrás da câmera estejam funcionando como um relógio: ritmo, tempo e precisão. Guarde bem suas planilhas de produção, anotações, desenhos, roteiros e fotos. Esse material pode ser aproveitado para futuros orçamentos e até para seu portfolio.

Direção de Imagem:

Existem determinadas técnicas utilizadas na direção de imagem que propõem uma narrativa visual clara e tecnicamente entendidas pelo público em geral. Estas técnicas estão relacionados com:

I – As regras de continuidade;
II – As mudanças de angulação de câmera;
III – Os cortes e algumas normas básicas de composição e enquadramento.


I – As regras de continuidade:

Continuidade é o encadeamento lógico e suave dos planos de um vídeo (filme), que produz a sensação de que o enredo acontece de forma linear.

Continuidade de Iluminação: Deve-se estar atento as variações de luz nas gravações externas ao longo do dia. Deve-se examinar os ajustes necessários a temperatura de cor: luz natural, luz artificial, mudança das nuvens que provocam sombras, etc.

Continuidade de conteúdo: A continuidade de conteúdo diz respeito a qualquer mudança na fisionomia ou na roupa dos personagens, que devem permanecer iguais ao mudar de plano em uma cena. Exemplo: um ator gravar uma cena de óculos escuros e, no dia seguinte, gravar o restante da cena sem os óculos. Uma atriz entra no banheiro com uma toalha azul e, algum minuto depois, sai do banheiro com uma toalha vermelha. Etc.

Continuidade de posição: O diretor deve ter atenção na marcação dos atores em cena. Exemplo: Uma atriz que estava sentada e que aparece de pé no plano seguinte, sem justificativa lógica. Deve-se tomar muito cuidado também com o posicionamento de câmera em relação aos atores, para não pular o eixo de ação dramática. (eixo dos 180º).


Continuidade de movimento: Deve-se prestar atenção ao deslocamento dos objetos e personagens em cena. Caso contrário, o telespectador perde o senso de direção e fica desorientado. Exemplo: um trem deve entrar em quadro, por exemplo, pelo lado direito da tela. Ao cortar para outro plano, em um ponto da estrada de ferro mais à frente, deve-se enquadrar o trem entrando também pelo lado direito.

II – As mudanças de angulação de câmera:

A angulação que a câmera assume pode ser utilizada para intensificar o conteúdo dramático de uma cena. Existem três ângulos diferentes associados com a altura da câmera em relação ao cenário:

a) câmera normal: É aquela que aponta diretamente para a cena com a objetiva paralela a uma superfície plana horizontal, enquadrando o cenário de frente, como o olhar normal.

b) câmera alta (Plongée): A objetiva enquadra os personagens e os objetos de cima para baixo. A câmera alta normalmente pode ser usada para desvalorizar o assunto, colocando o personagem em posição de inferioridade, de fragilidade, de medo, etc.

c) câmera baixa (Contre-plongée): A objetiva enquadra os personagens e os objetos de baixo para cima. A câmera baixa é utilizada para valorizar o assunto enquadrado, colocando o ator e os elementos em cena em condição de superioridade ou dominância.


É claro que são apenas meras convenções, dependendo da criatividade do diretor. A câmera alta e a câmera baixa também podem ser utilizadas sem intensificar a sensação de inferioridade ou de superioridade. É o caso da gravação de um jogo de futebol ou de uma corrida de cavalos, com a câmera na arquibancada. Nestes casos, o plogée apenas mostra o ponto de vista de um espectador observando normalmente o cenário.


III – Os cortes:

O corte é uma forma de transição de planos na qual, simplesmente, junta-se a última imagem de um plano à primeira imagem do plano seguinte. No entanto, o corte representa muito mais do que uma simples emenda entre planos. É através dele que se altera o tempo, o espaço e a dinâmica da narrativa.

Exemplo:

a) Um homem, em close-up, está com a expressão triste;
b) Uma roleta gira e para no número 21;
c) O mesmo homem, em close-up, sorri.


Entende-se que, durante o jogo, o personagem acertou o número apostado. Se o exemplo fosse ao contrário: Homem sorrindo; roleta mostra preto 21; o mesmo homem fica triste. Neste caso o jogador estava feliz e ganhando dinheiro até que, de repente, a roleta parou em um número indesejável.
LINGUAGEM E NARRATIVA TELEVISIVA


Deve-se ao americano David Wark Griffith (1875/1948 = 73 anos), o mérito de ter introduzido um tipo de narrativa visual, seguido como modelo pela indústria cinematográfica. Seus filmes foram pioneiros na criação de uma nova linguagem visual, onde a câmera começava sair da “cadeira do teatro filmado”, ritmando o tempo, aproximando-se e afastando-se dos personagens, possibilitando, desta forma, que o espectador assistissem uma cena sob ângulos diferentes. Deve-se a ele o uso de close-up, plano geral, flashbacks e fades. Alem disso, seus filmes apresentavam algumas técnicas narrativas, como por exemplo, a sustentação de momentos fortes do enredo do filme e uma forma de interpretação que dava ênfase ao controle de expressão dramática dos atores. Griffith percebeu que os enquadramentos mais abertos (plano geral e plano conjunto) servem para reforçar os aspectos descritivos da estória. Já os primeiros planos e close-up oferecem ao espectador uma proximidade maior com os personagens, podendo ser utilizados para transmitir mais fortemente as emoções. Os planos médios, por outro lado, são planos eficientes para destacar a ação e os movimentos dos atores.


Esses planos são mais eficientes sob o ponto de vista descritivo. Mostra ao espectador onde se desenvolve a ação.

Grande Plano Geral -GPG
DESCRIÇÃO Plano Geral - PG
Plano Conjunto - PC

Esses Planos são mais narrativos e apresentam os personagens em ação.
NARRAÇÃO Plano Médio – PM
Plano Americano – PA
Esses Planos se destacam por duas razões principais que motivam a sua execução:

1º - Apresenta o personagem ao público.
2º - Transmite ao público, o estado emocional do ator.

Primeiro Plano - PP
EMOÇÃO Primeiríssimo Plano - PPP
Plano Detalhe – PD

Os planos de gravação:

O plano é um seguimento de imagem contínua compreendido entre dois cortes, ou seja, é a imagem registrada durante o intervalo de tempo no qual a câmera está ligada, gravando uma cena. O plano é classificado de acordo com o tamanho da figura humana dentro do quadro. Para o planejamento dos planos é necessário uma decupagem técnica do roteiro. Decupar é dividir um vídeo (filmes) em planos, reunindo uma série de fragmentos de imagem contínua, gravada sob diversos ângulos, e com pontos de vista diferente. Um conjunto de planos chama-se cena, e um conjunto de cenas chama-se seqüência.

CENA: É um conjunto de planos
SEQUENCIA: É um conjunto de cenas
TAKE: É o registro repetido do mesmo plano.
PLANO SEQÜÊNCIA: É a filmagem de uma seqüência em um único plano.

O bom diretor de televisão, é aquele que, além de dominar o lado estético da realização, domina também uma idéia de ação contínua. A decupagem é um dos segredos fundamentais para a direção de um enredo.
Movimento de Câmera:

No início do cinema as câmeras eram fixas, dificultando várias vezes às cenas, já que elas deveriam acontecer no campo visual da câmera. Novas lentes e novos tripés foram surgindo, possibilitando movimentos. Aqui estão:


TRAVELLING - A câmera pode movimentar-se, aproximando ou afastando, tanto na lateral quanto na diagonal ou frontal.


PAN (PANORÂMICA) ou PAN HORIZONTAL - Este movimento descreve uma cena horizontalmente, ao ponto que a câmera gira entorno do seu próprio eixo, podendo ser da esquerda para a direita, ou da direita para a esquerda. Não deve utilizar os dois movimentos num mesmo plano, como se estivesse varrendo para um lado e outro ao mesmo tempo. Deve-se ter atenção quanto a regra de continuidade de movimento.


TILT ou PAN VERTICAL - Descreve um objeto, um prédio, uma pessoa no sentido vertical, ele pode ser usado de cima para baixo, ou de baixo para cima, dependendo da intenção da descrição. Não deve ser utilizado os dois movimentos ao mesmo tempo, como se estivesse varrendo.

A captação de cenas obedece a uma regra de posicionamento de câmera, chamada eixo. É um eixo imaginário de 180 graus que divide a cena.


EIXO DE 180 graus


Movimento da objetiva:

Os movimentos da objetiva estão compreendidos no ato ou efeito de aproximar ou afastar a imagem, através dos recursos: ZOOM IN e ZOOM OUT. Utiliza-se como movimento este recurso que a lente Zoom possibilita:


a) Zoom in - traz a imagem distante para bem próxima.
b) Zoom out - leva a imagem próxima para longe.



ENQUADRAMENTO


Os enquadramentos de câmera é aquilo que colocamos dentro da tela. São os planos. É a boa composição do enquadramento que privilegia a cena. O equilíbrio da imagem também é de vital importância neste caso. O bom senso também ajuda na escolha do melhor enquadramento. Quando uma das câmeras ultrapassa o eixo dos 180 graus , dizemos que ela "quebrou o eixo". Com o eixo ultrapassado, os enquadramentos das figuras ou pessoas ficarão com o mesmo enquadramento.

***Fim da Aula II***

Prof. Moysés Faria

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